Porque as instalações para cavalos no Brasil precisam mudar

Estábulos / Cocheiras

Arquitetura equestre, ou seja, a arte de projetar instalações para cavalos ainda é um tema incipiente no Brasil. Apesar dos inúmeros haras e hípicas que temos no país, alguns edificados nos mais finos acabamentos, pouco encontramos de material especializado no assunto que levam em conta questões que vão desde a funcionalidade do espaço até segurança do usuário e animais. Isso inclui literatura especifica até fornecedores.

Atualmente, nossa arquitetura das instalações voltadas para cavalos, seja ela um grande haras, um rancho, uma hípica ou até um pequeno maneje, são baseadas em uma cultura de replicar o padrão construtivo adotado de forma equivocada no país. Por exemplo, uma deficiência encontrada em 95% das construções de cocheiras do Brasil é a privação de luz natural, isso vem de uma cultura de que em um país tropical, predominantemente quente, fazer baias escuras para os cavalos irá tornar o lugar mais fresco e consequentemente mais saudável para o equino, quando na verdade, só deixará o local mais úmido e abafado, se projetarmos adequadamente, a exposição a luz natural só trará benefícios como desenvolvimento de vitamina D, ou seja, a pele, o casco, os dentes e ossos dos cavalos se beneficiarão da luz solar. A luz natural é comprovadamente eficaz ao eliminar germes e patógenos continuamente, além de ser o único fator que ajuda a regular a produção de hormônios como a melatonina; a luminosidade atrai o interesse dos humanos pelo lugar, ajuda a otimizar o desempenho dos ocupantes e tarefas dos funcionários, com uma visibilidade melhor, tornando o espaço mais seguro para o animal, consequentemente melhorando o humor e a produtividade de todos lá dentro. Basta dizer que, como uma defesa natural do ser humano, ao entrar em um lugar escuro, mal iluminado, você quer sair logo, buscar a luz; ao passo que ao entrar em um lugar iluminado. Além de todos esses benefícios, ainda temos a economia de energia elétrica, sem luzes acesas durante o dia. Como disse, a maioria das nossas instalações no Brasil não desfrutam dessa vantagem gratuita que é a luz do Sol, a boa notícia é que mesmo em haras e hípicas com edificações já existentes é possível mudar isso, adicionando painéis translúcidos no forro, maximizando aberturas superiores, janelas, etc. Essas medidas, combinadas com a ventilação adequada irão tornar o ambiente muito mais saudável e seguro.

Outra cultura equivocada é o uso de ventilador. A ventilação mecânica é dispensável e ainda mais, ela contribuí para espalhar a poeira e patógenos na cocheira. Mas como refrescar uma cocheira sem o uso do ventilador? Tirando partido da ventilação natural de cada lugar através de aberturas estrategicamente projetadas para eliminar o ar quente em conjunto com a iluminação natural. Combinando aberturas que promovem iluminação e ventilação em três niveís: No teto, em aberturas acima do nível da parede e nas aberturas laterais (janelas).

Além do fator conforto térmico a ventilação também tem papel crucial na eliminação da amônia de dentro da cocheira, para quem não sabe a amônia é um gás tóxico resultante da urina do cavalo.  A exposição a este gás, além do odor desagradável, queima os tecidos delicados do trato respiratório, olhos e aumenta a produção de muco, o que pode vir a resultar em doenças crônicas.  A chave para uma boa ventilação natural é o estudo da posição da cocheira em função das brisas prevalecentes no local, porém, para aqueles haras e hípicas que já estão construídos existem soluções alternativas para maximizar a ventilação através do estudo de novas aberturas.

Esses princípios básicos, amplamente aplicados em cocheiras, estábulos e instalações para cavalos fora do Brasil levam em conta não só a salubridade do local mas também são ideias de sustentabilidade que vão muito além da instalação de painéis solares ou reutilização de água, ajudam a economizar energia elétrica e consequentemente fazem toda diferença no bolso dos proprietários. Buscar inspirações fora do país nada tem a ver com tecnologias e materiais inovadores, mas sim como trabalhar princípios construtivos aplicando a arquitetura bioclimatica visando minimizar os impactos ambientais e reduzir o consumo energético. 

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